Djalma Pinheiro

Ah, se eu fosse um poeta....

Textos

 

Um menino Jesus....
La vinha ele em correria, corria mais que o Corisco, pois em sua breve trajetória aqui entre nós. Mesmo quando ainda no ventre de sua mãe, ele já estava literalmente correndo. Pois a Kátia (sua mãe) era uma mulher viciada em drogas que vivia as turras não só com a Policia, bem como em divergências com os bandidos das bocas de fumo que freqüentemente era expulsa.

Mas Kátia, dado a este triste flagelo que assola a humanidade nos tempos de hoje. As drogas, despedaçando os dependentes e suas famílias (quem não tem um parente, um amigo e ou no mínimo um vizinho dependente?). Acabou  sendo assassinada logo após o nascimento de João de Deus. Este mesmo seu nome, de tanto ela escutar a musica de Chico Buarque “Minha História(Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança E não sei bem se por ironia ou se por amor Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor). Ele foi criado em orfanatos da Prefeitura, para onde o levaram ainda com meses de idade. Logo sentindo na pele a dor do abandono, pois seu pai ninguem sabia quem era na realidade.

Sofria muito como sofre todos aqueles que por força do destino vivem na solidão e nos chamados dias especiais, como o Dia das Mães, Dos Pais, em seu aniversário e mais ainda nas noites de Natal. Pois aprendera que era o dia do nascimento do Menino Jesus. E ele em seu canto. Pois nestes dias se tornava uma criança fragilizada e arredia como todas que estão nestas condições pelo mundo afora.

Procurava um cantinho qualquer e e se dava ao luxo de sonhar. Sonhar com sua familia reunida. Tentava inultimente lembrar dos rosto de sua mãe, desenhava em sua mente juvenil as feições de seu pai e ficava literalmente todo o dia de Natal absorto, perdido em seus sonhos infantis, ora sendo acariciado pela mãe e pelo pai, ora ganhando os presentes que todas as crianças sonham em ganhar de Papai Noel, neste dia.

Quando caia na real, perguntava. Menino Jesus, porque voce teve uma Mãe e um Pai e eu não posso ter. Queria ficar pertinho deles, não precisa me dar presentes não é só me colocar pertinho deles, sentido o calor do amor deles, pois dizem que todos os Pais e Mães, quando nos colocam no colo, sentimos um calor diferente, dizem as Tias aqui do orfanato que é o calor do amor de pai e mãe, po, como queria sentir este calor Menino Jesus.

Como nunca havia sido adotado, ficou de abrigo em abrigo até a sua fuga já com seus “vividos” oito anos de idade, passando a perambular pelas ruas da cidade. Joãozinho como era conhecido pelas pessoas de boa índole e que também atendia pelo apelido de “Pivete”, em suas andanças pelo sub-mundo. De viela em viela, de beco em beco, de boca em boca, pois a convivencia da rua o levou a se viciar em todos os tipos de drogas.

Mas quem consiguia olhar no fundo de seus olhos, via a sua alma, que nada tinha a ver com o que aparentava. Tanto é que em raros momentos de lucidez tornava-se uma criança em sua plenitude de seus “vividos” dez anos de idade. Via realmente “que ali estava bem mais que uma simples criança”. Tornava-se  dócil, meigo, prestativo e extremante educado.

Fato este que o levou a ser de certa forma, tratado pelas pessoas de bem,  simplesmente pelo nome de Joãozinho. Nunca lhe faltando um naco de pão, quando sentia fome, pois sempre aparecia uma alma caridosa. Fazia malabarismo em sinais de trânsito nas ruas da cidade. Mas muitas vezes ao receber as suas moedas, via-se em seu olhar infantil uma angustia, pois ele sabia que as moedas ali recebidas o levariam fatalmente a primeira boca de fumo para, agora, comprar sua pedra de Crak. O que o levaria mais uma vez a sonhar e depois ver a sua triste e dura realidade.

Mas depois que começou a conviver nas ruas quando chegava a semana do Natal, Joãozinho ficava um pouco mais arredio do que quando estava em orfanatos, pois sabia que ninguem prestaria atenção nele e aí é que se entregava profundamente ao vicio. Quem sabe se era pra esquecer a sua dura realidade ou talvez sonhar com um mundo encantado que ele nunca teria vivido. E que era o sonho que o acompanhava desde de quando era só uma criança abandonada em um orfanato.

Mas quis o destino que num certo dia vinte e quatro de dezembro; exatamente quando as familias estão fazendo suas vastas ceias, com suas roupas novas, as crianças com seus brinquedos maravilhosos; Eis que numa viela de uma boca de fumo, Joãozinho encontra pelo chão esparramadas diversas pedras de Crack, que bandidos em fuga da Policia, haviam deixado cair.

Joãozinho não pestanejou, foi fumando uma a uma. Já na madrugada em seus devaneios, olhou para o céu estrelado e viu um rastro de luz. Viu assim uma estrela guia que o convidava a segui-la com o olhar atento.  Ele se viu perambulando pela viela como se estivesse sendo carregado no ventre de sua mãe por um lugar que parecia ser um deserto. Via nestes devaneios tres homens com roupas estranhas, montados em cavalos tambem estranhos com corcovas e apontando para ele.

Joãozinho viu ali o seu nascimento de outra forma, pois ao olhar para o lado viu o rosto agora suave de sua mãe, ela mesma a Kátia viciada, mas que agora não tinha aquele semblante carregado, macilento e doente mas sim rosto de  uma bela mulher com um olhar doce e terno, ficou mais aturdido ainda quando viu também aquele homem alto e corpulento que sua mãe insistia a lhe apresentar como sendo o pai que ele nunca havia conhecido. Sentiu o calor que ele tanto sonhava. O calor do amor de Pai e Mãe.

Nossa! As feições de Joãozinho estavam com um ar realmente de uma bela criança, seus olhos vidrados em que estava vendo, estava sentindo uma alegria nunca sentida em sua breve trajetória aqui entre nós. Pois era o primeiro Natal que ele passava em familia e com um homem tambem junto que o mantinha no colo. Mais estranho  é que este homem não tinha feições definidas, pois uma hora era branco e barbudo, outra com aparencia de um indio, outra com aparencia de africano, outra com a de um asiatico e assim era este homem.

Mas a sensação de conforto de estar ali ao lado de sua mãe e de seu pai, sendo acariciado e no colo deste homem sem identidade, mas de um semblante de uma suavidade estupenda. Riu e disse valeu Menino Jesus, sei que me deste este presente, agora sim sei o que é o calor do amor. Sentia que agora sim a sua vida começaria em outra dimensão que não aqui entre nós.

Pois agora, mas tranqüilo, conseguia ver na viela da boca de fumo a aglomeração em volta de um corpo franzino, um corpo de um Pivete, estirado no chão sujo e frio da viela.  Mas era só um corpo, pois Joãozinho sabia agora onde estava, estava no colo de Deus. Que tambem pode se chamar Adonai, Oxala, Alá, Jeová.........

Esta é a história de Um Menino Jesus, como tantos que passamos em nosso cotidiano e simplesmente ignoramos, pois no dia do nascimento dele, sera que estamos sabendo como convidá-lo..........
 

Djalma Pinheiro

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Djalma Pinheiro
Enviado por Djalma Pinheiro em 09/12/2010
Alterado em 03/02/2024
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