Djalma Pinheiro

Ah, se eu fosse um poeta....

Textos

Convide o dono da festa......
 
Vinha Alfredo de mais uma jornada de trabalho, digamos que para muitos era um trabalho prazeroso, pois Alfredo era um grande e renomado ator de Teatro, Cinema e Televisão.

Homem acostumado a toda sorte de assédio por parte de suas fãs e sempre as recebia com a maior naturalidade mais sem mostrar muito afeto. Pois ele se achava o maior ídolo do mundo.

Quando era convidado a recepções que não eram de sua classe social, que por sinal ele era da chamada “Classe A”, assíduo freqüentador da mais alta roda do país. Ele sempre declinava com as desfarrapadas  desculpas, pois entendia que não poderia ter contatos pessoais com pessoas que não fossem importantes ou de seu núcleo social, mesmo que estas pessoas o tinham como o maior ator do mundo e fosse na realidade o esteio de sua popularidade.

Estava na no meado do mês de novembro e o povo no maior frenesi pela festas natalinas. Compras, presentes, festas de empresas, bares lotados e tudo mais.

Haviam acabado de lançar um filme, onde Alfredo era o ator Principal, como sempre foi um sucesso estrondoso, campeão de bilheteria e quase que certo uma indicação para um Oscar do cinema Brasileiro, bem como o próprio filme também provavelmente seria indicado para o melhor filme estrangeiro na festa do Oscar americano.

Ai que Alfredo se sentiu o maior e melhor homem do mundo, cercado de beldades, de convites e tudo o que tinha direito.

Como sempre ia a recepções natalinas a convite de suas amizades. Este ano resolveu ele inverter, pois convidaria seu  núcleo social para uma ceia com todos os produtos importados e de primeira qualidade em sua nova mansão na Barra da Tijuca, num dos mais luxuosos condomínios.

Fez a sua lista de convidados, contratou a melhor e mais cara equipe de festas, contratou a melhor Promoter do país, comprou os presentes mais caros para os seus convidados, champanhas mais badaladas do mundo como: Dom Pérignon , Louis Roederer Cristal Rosé , Taittinger Comtes de Champagne  e outras não de melhor qualidade.

Mas em sua lista ele se esqueceu de convidar o real dono da festa o que chamo de NOSSO AMIGO MAIOR. Pois ele vai a todas as festas natalinas para qual se guarde o seu lugar à mesa, quer seja na choupana mais humilde do mundo indo até o mais luxuoso palácio, lógico como ele não é penetra só vai se convidado.

Como estava em meados de novembro e era justamente a época de seu check-up de saúde anual. Sua assessoria marcou sua ida ao seu médico particular Dr. Cláudio, renomado médico. Fazendo ele todos os exames já no inicio de dezembro.

Alfredo pela sua “importância” era um ser arrogante, seu tratamento com a imprensa era só descaso, festa dos paparazzos, pois sempre estava sendo filmado em cenas das mais grotescas.....

Já com toda a recepção natalina armada e com o aceite de seus convidados eis que sua Secretaria particular Dona Adalgisa, mulher que era tratada por ele como um trapo humano, mais alem de ser sua fã numero um era um ser especial de uma áurea incrivelmente linda, foi a pedido do médico particular de Alfredo ao seu consultório.Pois ele nem se dava ao trabalho de ir pessoalmente pegar os resultados de seus exames, pois além de todos estes “predicados”, também achava que era imune a doenças do povo.

Dr. Cláudio ponderou a Dona Adalgisa, que só daria os resultados na mão do Alfredo, pois precisava muito conversar com ele e foi mais além nesta conversa estaria presente um amigo seu, um grande e renomado Psicólogo.

No que foi marcada então a ida de Alfredo para dois dias depois. Dona Adalgisa apreensiva e grilada tentou junto ao Dr. Cláudio que adiantasse a ela qual seria o assunto. No que gentilmente o médico ponderou e pediu sigilo, que não poderia adiantar mais só dizer que o assunto era da maior gravidade.

No dia marcado Alfredo muito a contra gosto foi ao encontro do médico, lá chegando já estava também o Dr. Antonio Carlos o renomado Psicólogo. Alfredo era tão arrogante que nem se tocou da não entrega de seus exames a sua  Secretaria  Dona Adalgisa.

O Dr. Cláudio com muito tato e assessoria do Dr. Antonio Carlos o Psicólogo, começou a explanar o real motivo de sua chamada ao consultório.

Disse a Alfredo, meu caro amigo infelizmente não tenho boas noticias para você e provavelmente será talvez um dos Natais mais tristes que poderás ter, pois meu amigo apareceu em seus exames o vírus HIV, que é uma deficiência imunológica, mais conhecida como AIDS.

Nossa Alfredo ficou pálido e sem chão, sua cabeça rodava, seus olhos ficaram marejados de lágrimas, sua pernas tremiam que nem agüentavam seu corpo em pé, uma mudança radical no comportamento daquele ser arrogante e prepotente.

Pois sua mente no momento da noticia o transportou para o seu passado que escondia a sete chaves. Passado este de menino pobre do subúrbio da Piedade, que para subir na vida fez de muita gente boa de trampolim, que renegou toda a sua família, sua origens, inclusive seus pais, Seu Antonio e Dona Maria, já falecidos, em fim um passado que para ele era tenebroso e de dar vergonha.

Alfredo saiu do consultório literalmente já um novo homem, cabisbaixo, olhando o chão onde pisava. Foi direto ao estacionamento e adentrou em seu carro, pedindo ao seu Motorista Claudinho que fossem direto para casa e não mais para seus compromissos agendados. No que Claudinho estranhou a sua forma de pedir, pois sempre o tratou com ignorância peculiar e desta vez nem gritou com ele, pedindo quase que implorando que o tirasse dali.

Alfredo estava recluso em casa. Pois depois de sua ida a clinica, pediu a sua Secretaria  Dona Adalgisa, que cancelasse todos os seus compromissos no país. Disse para alegar que tinha ter que viajar ao exterior com urgência e para os compromissos internacionais já assumidos, invertesse a desculpa, dizendo que por motivos de urgência não poderia se ausentar do país.

Mas para falta de sorte de Alfredo quando ele saia de casa lá estavam os temidos Paparazzos, que ele tanto brigava inclusive já havia ganho diversas ações contra muitos deles.  Logicamente que são profissionais espertos, foram a clinica saber o motivo da presença de Alfredo.

Mas lógico ainda, foi que na clinica nada souberam, pois alem de ser proibido eticamente em qualquer clinica ou hospital dar informações sobre pacientes que não seja o próprio é crime e era uma das melhores clinicas do país.

Como aves de rapina e com seus faros para furos de reportagem os Paparazzos começaram a sondar a todos que rondavam ou trabalhavam para Alfredo. Tanto fizeram que acabaram conseguindo saber o porquê de sua reclusão espontânea.

Um de seus empregados caseiros a quem ele travava e chamava de LACAIOS, havia escutado sem querer um finalzinho de um telefonema dele com Dr. Cláudio,  pois haviam feito novo recolhimento de seu sangue para uma segunda prova, neste telefonema era justamente para saber se fora confirmado o diagnóstico.

Quando falava ao telefone o que chamou a atenção de Dona Irene, uma das lacaias (palavras de Alfredo), inclusive era uma das que ele mais ofendia por ser uma senhora de idade e sem chances de conseguir outro emprego. Mas para dizer a verdade uma tremenda fofoqueira.

No telefone Alfredo pálido repetia chorando copiosamente. DR CLÁUDIO REALMENTE ESTOU COM AIDS?....

Nossa já diz o ditado, quem bate esquece mais quem apanha não esquece não e Dona Irene a fofoqueira, ria que nem criança em circo. Como havia dias antes ser sondada por um dos Paparazzos, que lhe oferecerá uma boa quantia em dinheiro pela informação, não deu outra de imediato fora procurá-lo e ai soltou a bomba.
Nossa prato cheio para a imprensa sensacionalista, pois, no dia seguinte na PRIMEIRA PÁGINA DO JORNAL. – URGENTE – É CONFIRMADO QUE O NOSSO MAGNIFICO ATOR ALFREDO LISBOA TA COM AIDS.

Nossa foi como a pérola da MPB, composta por Dolores Duran e imortalizada por Maysa. O MEU MUNDO CAIU E ME FEZ FICAR ASSIM, só que ao contrario desta perola da MPB, ninguém ficou com pena, muito pelo contrário...

Neste ínterim dado aos fatos ocorridos Alfredo nada havia mudado quanto à fabulosa Ceia de Natal, pois havia pedido a Dona Adalgisa que nada desmarcasse, pois queria manter em sigilo até quando pudesse  a sua doença.

Todos, mais todos mesmos os convidados começaram a dar as mais esfarrapadas desculpas para não irem à ceia de Alfredo, levando o mesmo ao desespero total.

Quanto a sua vida profissional também passou a ser um verdadeiro inferno, pois também começaram a desmarcar convites para estrelar peças de teatro, cinema e televisão. A imprensa nacional e internacional solicitando entrevistas não para aquele Rei da dramaturgia e sim para um ser com uma enfermidade grave. O que para Alfredo era a morte.


E assim Alfredo caiu numa profunda depressão, o que complicou ainda mais seu estado de saúde, tornando-se um ser pálido, esquelético, pois não conseguia se alimentar. Em nada parecia aquele ser de antes. Estava mais para um farrapo humano que um ser pelo menos normal. Pois vivia preso em sua casa choramingando sua falta de sorte.

Olhava para os artigos da ceia e os presentes  que já haviam chegado. Danava de espraguejar a todos, desde os convidados que declinaram do convite ao AMIGO MAIOR, que ele esquecera de convidar para a festa.


Mas pensem que foi o AMIGO MAIOR, que o castigou não, por não ter sido convidado, pois conforme a letra do samba cantada pela nossa querida BETH CARVALHO – “DEUS NÃO CASTIGA NINGUÉM, A GENTE É QUE SE CASTIGA MEU BEM. Foi sim a sua arrogância, pois só colhemos o que plantamos nesta ou em outras vidas.

Ai chegou o Natal, noite de vinte e quatro de dezembro. Em uma mansão linda mais sombria, pois nela estava Alfredo com sua dor, em certo momento de sua depressão mandou que todos os empregados fossem para suas casas, pois não queria ver ninguém. Pensamentos sombrios lhe viam a mente, sua real intenção era fatalmente o suicídio.

Alfredo começou a beber seus caros champanhes, seus whiskey’s  e tudo o que tinha direito, lá pelas tantas perto das dez horas da noite, pegou uma arma e chorando apontou para sua cabeça, engatilhou e apertou o gatilho, mais para seu desespero a arma engasgou (falhou). Ficou tão desesperado que saiu trôpego de casa, pegando um de seus caríssimos carros importado e foi para a rua, dirigia que nem um transloucado sem destino.

Mas quis o AMIGO MAIOR, que nada lhe acontecerá, indo instintivamente da Barra da Tijuca a Piedade, bairro pobre do subúrbio onde tudo começou.  Sem se dar conta do que estava fazendo subiu o morro do dezoito, via nos casebres humildes que ele conhecia bem, pois fora criado num deles.

As famílias reunidas, gente simples mais honestas comemorando o nascimento do AMIGO MAIOR. Reparou então que nas mesas com suas ceias simples, sempre tinha uma cadeira vazia e nas mesas um copo de água, um de vinho e umas rabanadas.


Ai sim que ele se lembrou de sua mãe e de seu pai. Pois também postavam assim a mesa da ceia. E diziam “meu filho, ninguém senta nesta cadeira hoje e nem podem beber a água e o vinho e muito menos comer estas rabanadas do pratinho, pois era o lugar do AMIGO MAIOR sua parte da ceia”. Alfredo desesperado então caiu aos prantos no chão de barro molhado.

Em certo momento uma das famílias mais humildes do morro do dezoito reconheceu aquele homem, ou que restava daquele homem.

Humildemente chegaram a ele e perguntaram a ele se estava bem, as crianças com seus brinquedos velhos (havia ganhado de segunda mão), lhe acariciavam, mas Alfredo não conseguia falar, pois continuava a chorar copiosamente.


Levaram Alfredo para dentro do casebre, o puseram para sentar a mesa, que na realidade não passava de um pedaço de madeira, sustentado por caixotes, e algumas cadeiras velhas, provavelmente conseguidas em lixões.

Mas lá estava a “cadeira vazia” e em cima da tosca e improvisada mesa, a água, o vinho e pedaços de pão, pois não haviam conseguido dinheiro para o gás para fazer a rabanada.


Alfredo ficou sentado logo em frente à “cadeira vazia”, sempre chorando, agora mais brandamente e quando olhava para frente via vultos alternados. Uma hora o AMIGO MAIOR, outras seus pais, todos rindo e com olhares de amor a ele.

Alfredo foi se acalmando e incrédulo perguntou ao Senhor João, o pobre catador de papelão e latas. Como o senhor me traz para dentro de sua casa, perto de sua esposa com este barrigão e junto aos seus cinco filhos menores. O senhor já que me reconheceu, não sabes que estou com AIDS.

No que o humilde João falou, Fredinho (era assim que era chamado quando menino pobre do morro), nem ta lembrado de mim não é, sou o Joãozinho e fomos criados juntos, seus pais nas noites de Natal, por não saber quem eram os meus, pois haviam sumido na vida, sempre me levavam para a sua casa e me ensinaram como por a mesa e guardar  o lugar do AMIGO MAIOR e que por mais humilde que ela fosse, sempre teria um lugar para mais um filho dele.

Só te peço desculpas por ter só esta garrafa de vinho “Olho de boi”, esta jarra de suco, feito com suco em pó, este frango assado e os pedaços de pão. Mas pode comer Alfredinho que estão limpinhos e abençoados pelo AMIGO MAIOR.

Alfredo deste Natal em diante, passou a ser um novo homem. Tornando-se um ser extremamente humano. Pois aprendera uma lição de vida.

A simples lição de que somos todos iguais perante a DEUS a quem chamo CARINHOSA E RESPEITOSAMENTE DE MEU AMIGO MAIOR, POIS ELE REALMENTE É MEU AMIGO.

NÃO SE ESQUEÇAM POR MAIS LUXO QUE TIVEREM EM SUAS CEIAS NUNCA SE ESQUEÇA DE CONVIDAR O DONO DA FESTA.

 


Um bom natal a todos....

Djalma Pinheiro

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Imortal da Academia Mundial de Cultura e Literatura – Cadeira:13.

 

Djalma Pinheiro
Enviado por Djalma Pinheiro em 23/11/2012
Alterado em 03/02/2024
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